No Brasil, até o final de 2022, havia 1,5 milhão de trabalhadores de aplicativos como Uber, Rappi e iFood. Além disso, outras 600 mil atuavam em plataformas de comércio eletrônico (como Shopee e Mercado Livre), totalizando 2,1 milhões de trabalhadores brasileiros em plataformas digitais. As informações foram reveladas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na mais recente na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua).
Todas as estatísticas fazem parte do módulo Teletrabalho e Trabalho por Meio de Plataformas Digitais da PNAD Contínua e o instituto reforça que a pesquisa ainda tem caráter experimental e segue sob avaliação.
A metodologia considerou como trabalhador plataformizado toda pessoa que usa uma ferramenta digital de serviços para exercer o trabalho, como motoristas, entregadores de apps e operadores de lojas virtuais em plataformas de e-commerce, e afirmou que essa era a principal atividade laboral durante a semana da pesquisa, no último trimestre de 2022. Das 87,2 milhões de pessoas empregadas no setor público, 2,1 milhões usavam os canais digitais.
A pesquisa revela que 81,3% dos trabalhadores de plataformas digitais são homens, dos quais 61,3% possuem ensino médio completo ou superior incompleto como grau de instrução. A faixa etária predominante envolve o grupo de 25 a 29 anos de idade, que engloba quase metade dos entrevistados (48,4%).
Com relação ao tipo de serviço usado, os aplicativos de transporte de passageiros, como Uber e 99, dominam o cenário com folga com 47,2% dos profissionais — a conta ainda exclui motoristas exclusivos de aplicativos de táxi, como cooperativas, que ocupa uma parcela de 13,9% do total.
Logo em seguida estão as pessoas cadastradas em aplicativos de entrega de comida e outros produtos, como iFood e Rappi, com 39,5%. A quarta maior categoria envolve apps de prestação de serviços, com 13,2%.
É interessante notar a predominância masculina nesses serviços ao considerar que os homens ocupam apenas 59,1% dos trabalhadores no setor privado. De acordo com o analista da pesquisa Gustavo Geaquinto, em declaração à agência de notícias do IBGE, isso ocorre porque as ocupações de condutores de automóveis e motocicletas seriam “majoritariamente masculinas”.
A região Sudeste possui a maior concentração de pessoas ocupadas em plataformas digitais, com 2,2% do setor privado. A menor adesão fica por conta de Nordeste e Sul, cada um com 1,3% cada.
Na divisão pelo tipo de serviço, a região Norte possui a maior parcela de trabalhadores em aplicativos de transporte particular, bem acima da média brasileira, enquanto a região Sul concentra uma fatia maior de entregadores de comida e produtos.
Em média, quem trabalha com aplicativos tem jornadas mais longas do que o padrão do trabalhador privado. A pesquisa revela que os plataformizados trabalham por 46 horas semanais, enquanto a parcela do setor privado é de 39,6 horas.
Além disso, o segmento de apps tem apenas 35,7% das pessoas contribuindo para a previdência contra 60,8% do setor privado.
O rendimento semanal médio é ligeiramente maior na parte de serviços digitais: R$ 2.645 contra R$ 2.510 no setor privado. No entanto, isso vem com o preço de jornadas maiores: “Essa diferença nas horas trabalhadas também pode explicar a diferença de rendimento. Se considerarmos o rendimento por hora trabalhada, os trabalhadores plataformizados apresentam, em média, rendimento hora inferior ao dos demais ocupados”, aponta Geaquinto.
O estudo ainda traz informações sobre a rotina de trabalho para plataformizados e não plataformizados em cada segmento. No caso dos motoristas de aplicativos, o rendimento médio é muito parecido, mas os cadastrados em apps trabalham mais horas e contribuem menos para a previdência.
Já entre os entregadores por motocicleta, o rendimento é maior para os que atuam fora de apps. No entanto, não é possível apurar a oferta total de trabalho disponível fora dos serviços digitais para a categoria.
A falta de vínculo empregatício é uma questão recorrente entre trabalhadores de aplicativos e foi sinalizada na pesquisa: 77,1% dos entrevistados afirmaram trabalhar por conta própria, enquanto apenas 5,9% possuíam um emprego com carteira assinada. Para efeito de comparação, 44,2% dos profissionais no setor privado atuavam na informalidade.
O cenário é um dos desafios apontados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), que aponta que os serviços digitais possuem “importante controle sobre a organização e a alocação do trabalho e sobre a remuneração dos trabalhadores”, o que implica na ausência de seguridade social e direitos trabalhistas. Por outro lado, a OIT reforça as oportunidades para gerar renda e alcançar novos mercados.
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